Foi por volta de meados dos anos oitenta que, com a pressão da introdução dos computadores no pré-escolar, se gerou uma discussão no sentido de se perceber se estes realmente não iriam ser prejudiciais à educação das crianças.Com a leitura deste texto o autor diz-nos que há 2 posições: por um lado defendem que enaltece os benefícios com as novas descobertas e por outro lado preocupam-se com uma desestabilização de usos e costumes dos computadores. O autor defende que tais posições contraditórias se devem ao facto de ainda existir muitas dúvidas sob as possibilidades educativas da informática.
Modernidade e educação:
A modernidade sustentava-se na expectativa de que superaríamos através da racionalidade, os limites da desigualdade, da miséria, da fome e da submissão.
(…)Pela sua complexidade interna, pela riqueza e diversidade das ideias novas que comporta e pela maneira como procura a articulação entre elas, o projecto da modernidade é um projecto ambicioso e revolucionário. As suas possibilidades são infinitas mas, por o serem, contemplam tanto o excesso das promessas como o deficit do seu cumprimento. (João Filho, 107)
A Construção da intencionalidade na educação: as pressões da Modernidade
A infância é vista como uma invenção moderna, apesar de a criança existir desde sempre, mas na própria modernidade o sentimento que se cultiva em relação à infância não deixa de revelar um certo paradoxo, isto porque é considerada como um momento que antecede ao uso da palavra e da razão como também é vista como um lugar potencial daquilo que seremos no futuro.
Esta ideia é agravada na contemporaneidade quando as próprias infra-estruturas de produção, as máquinas, os programas de computador, a cada dia fornecem e exige, novas adaptações. Factor este que para a educação e para os educadores representa uma enorme pressão adquirindo outro ritmo e outras características através da própria pressão da vida quotidiana.
Na educação esta pressão concretiza-se através das propostas de materiais que tentam a antecipação da aprendizagem, nomeadamente apoio nas tecnologias mais recentes, como os computadores, a televisão. O autor dá-nos um exemplo disso mesmo, programas de computadores que se propõem a alfabetizar bebés a partir de dezoito meses.
Entre a regulação e a emancipação…em busca de uma proposta para a educação das crianças
Concluídos alguns estudos, o desenvolvimento social da criança no processo de interacção e colaboração com o meio circundante realiza-se através da organização e estruturação das formas superiores da actividade psíquica e daí nasce a formulação para o desenvolvimento percorrer o caminho do interpsicológico para o intrapsicológico.
Vygotski (1993,citado por João Filho, 2004) defende também a tese de que as funções psicológicas básicas para o aprendizado se desenvolvem numa interacção contínua com as contribuições e solicitações do próprio aprendizado. E nesse sentido, a prática social nas diferentes instituições humanas não é só lugar das aprendizagens, mas também da génese das funções psicológicas, o que significa que o ensino precede o desenvolvimento (pág.126).
O autor faz a comparação entre o pensamento de Vygotski e o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, e segundo ele coloca a questão de que se não haveria a possibilidade de acelerar o desenvolvimento e a aprendizagem através do uso de ferramentas de ensino adequadas? O autor dá logo a resposta dizendo que acredita que não, pois se a criança não consegue resolver, não consegue acompanhar, e por isso deixa de existir a atividade interessada que é um elemento fundamental no desencadeamento do circuito interativo resultante no desenvolvimento das estruturas cognitivas.
O autor crítica alguns modelos escolares tradicionais, e considera que a educação feita somente pelos familiares das crianças não é favorável, defende que as crianças têm o direito á educação em espaços públicos e coletivos que lhes permitam viver plenamente a sua infância. Outra apreciação feita aos modelos marcados por mecanismos instrucionais de transmissão de conteúdos passa por uma tentativa de chamar a atenção para uma espécie de desvio que reduz o processo educativo apenas para ao conjunto das atividades dirigidas intencionalmente pelo professor, desqualificando outras iniciativas e relações que estão ocorrendo nesse mesmo ambiente.
O autor acredita que as crianças possam conviver com diferentes visões do mundo, experimentar diferentes formas de expressão e de linguagens, possam ensaiar diferentes interpretações do mundo, reconhecer e valorizar, igualmente diferentes escolhas, diferentes organizações familiares, diferentes traços culturais. Que possam fazer isto sem que tenhamos que lhes “dar uma aula”sobre o assunto. (João Filho, pág 120).
Torna-se importante por isso a construção de mecanismos que nos habilitem a aprender a ouvir o que as crianças têm a dizer. É urgente a necessidade de nos abrirmos para o que elas expressam, com a humildade de admitir que praticamente as desconhecemos.
Educação na contemporaneidade: a tónica do debate
Ultimamente tem vindo a crescer uma constante preocupação com a qualidade de vida das crianças, porque as sociedades modernas tendem a preocupar-se mais com questões supérfluas e exteriores, que acabam por não ir de encontro às necessidades das nossas crianças.
Com esta atitude, as crianças de todos os estratos sociais, ficam susceptibilizáveis a patologias do mundo atual, tais como a miséria, a fome, a exclusão social, a solidão, a monotonia, a dependência do consumismo e ao empobrecimento de experiências com os outros e o mundo.
Nos últimos anos, temos assistido a dois paradigmas educacionais contraditórios. Se por um lado a preocupação maior é a “guarda e custódia” das crianças, por outro começa a dar-se um enfoque maior às aprendizagens que as mesmas têm de conquistar durante o seu processo de escolarização.
A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autónoma, crítica e construtiva com a cultura, em suas várias manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela e pela cultura quotidiana. E para que? Para formar cidadãos participantes em todas as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular os objectivos convencionais da escola- transmissão- assimilação activa dos conteúdos escolares, desenvolvimento do pensamento autónomo, crítico e criativo, formação de qualidades morais, atitudes, convicções- às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada (…). Trata-se de conceber a escola de hoje como espaço de integração e síntese (…) (Libâneo, 1998:8-9)
Mas afinal, que currículo, metodologias e estratégias devemos usar para facilitar a conquista de novas aprendizagens por parte das nossas crianças?
O educador de infância, já com crianças pequenas, deve incentivar a que estas consigam usufruir da dualidade do saber ser e saber fazer, do sentir e do pensar, de escolher e de criar.
Educação e informática- afinal o que se conclui?
Em todos os níveis de ensino, pretende-se que as crianças construam uma identidade pessoal, sendo que essa construção deve pautar-se pela ampliação das experiências de vida, baseada na diversificação dessas mesmas experiências, na comunicação intercultural, na valorização da solidariedade, no estímulo às mais diferentes formas de expressão dos sentimentos e do conhecimento e, no cultivo de relações multirraciais.
Para conseguirmos trabalhar todos estes conceitos na sua plenitude, devemos recorrer então aos computadores e a todos os recursos disponibilizados pelas escolas, potenciando dessa forma a abertura de um leque mais vasto de comunicações e de expressão amplas, favorecendo assim o intercâmbio de significados e valores.
No entanto, devemos sempre dar um enfoque principal às relações humanas, pois só dessa forma conseguiremos trabalhar todas as áreas de desenvolvimento das crianças, fazendo com que sejam elas a descobrir as suas capacidades e os seus limites.
Através do uso de meios tecnológicos, de diversos materiais sensoriais, de diferentes meios e métodos de aprendizagem, conseguiremos tornar as nossas crianças felizes e capazes de “enfrentar” o mundo, mas só o conseguiremos na sua plenitude se elas se desenvolverem lado a lado com os outros, numa constante troca de experiências e saberes.