segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Educação Infantil e informática: entre as contradições do Moderno e do Contemporâneo

Foi por volta de meados dos anos oitenta que, com a pressão da introdução dos computadores no pré-escolar, se gerou uma discussão no sentido de se perceber se estes realmente não iriam ser prejudiciais à educação das crianças.Com a leitura deste texto o autor diz-nos que há 2 posições: por um lado defendem que enaltece os benefícios com as novas descobertas e por outro lado preocupam-se com uma desestabilização de usos e costumes dos computadores. O autor defende que tais posições contraditórias se devem ao facto de ainda existir muitas dúvidas sob as possibilidades educativas da informática.

Modernidade e educação:

A modernidade sustentava-se na expectativa de que superaríamos através da racionalidade, os limites da desigualdade, da miséria, da fome e da submissão.
(…)Pela sua complexidade interna, pela riqueza e diversidade das ideias novas que comporta e pela maneira como procura a articulação entre elas, o projecto da modernidade é um projecto ambicioso e revolucionário. As suas possibilidades são infinitas mas, por o serem, contemplam tanto o excesso das promessas como o deficit do seu cumprimento. (João Filho, 107)

A Construção da intencionalidade na educação: as pressões da Modernidade

A infância é vista como uma invenção moderna, apesar de a criança existir desde sempre, mas na própria modernidade o sentimento que se cultiva em relação à infância não deixa de revelar um certo paradoxo, isto porque é considerada como um momento que antecede ao uso da palavra e da razão como também é vista como um lugar potencial daquilo que seremos no futuro.
Esta ideia é agravada na contemporaneidade quando as próprias infra-estruturas de produção, as máquinas, os programas de computador, a cada dia fornecem e exige, novas adaptações. Factor este que para a educação e para os educadores representa uma enorme pressão adquirindo outro ritmo e outras características através da própria pressão da vida quotidiana.
Na educação esta pressão concretiza-se através das propostas de materiais que tentam a antecipação da aprendizagem, nomeadamente apoio nas tecnologias mais recentes, como os computadores, a televisão. O autor dá-nos um exemplo disso mesmo, programas de computadores que se propõem a alfabetizar bebés a partir de dezoito meses.

Entre a regulação e a emancipação…em busca de uma proposta para a educação das crianças

Concluídos alguns estudos, o desenvolvimento social da criança no processo de interacção e colaboração com o meio circundante realiza-se através da organização e estruturação das formas superiores da actividade psíquica e daí nasce a formulação para o desenvolvimento percorrer o caminho do interpsicológico para o intrapsicológico.
Vygotski (1993,citado por João Filho, 2004) defende também a tese de que as funções psicológicas básicas para o aprendizado se desenvolvem numa interacção contínua com as contribuições e solicitações do próprio aprendizado. E nesse sentido, a prática social nas diferentes instituições humanas não é só lugar das aprendizagens, mas também da génese das funções psicológicas, o que significa que o ensino precede o desenvolvimento (pág.126).
O autor faz a comparação entre o pensamento de Vygotski e o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, e segundo ele coloca a questão de que se não haveria a possibilidade de acelerar o desenvolvimento e a aprendizagem através do uso de ferramentas de ensino adequadas? O autor dá logo a resposta dizendo que acredita que não, pois se a criança não consegue resolver, não consegue acompanhar, e por isso deixa de existir a atividade interessada que é um elemento fundamental no desencadeamento do circuito interativo resultante no desenvolvimento das estruturas cognitivas.
O autor crítica alguns modelos escolares tradicionais, e considera que a educação feita somente pelos familiares das crianças não é favorável, defende que as crianças têm o direito á educação em espaços públicos e coletivos que lhes permitam viver plenamente a sua infância. Outra apreciação feita aos modelos marcados por mecanismos instrucionais de transmissão de conteúdos passa por uma tentativa de chamar a atenção para uma espécie de desvio que reduz o processo educativo apenas para ao conjunto das atividades dirigidas intencionalmente pelo professor, desqualificando outras iniciativas e relações que estão ocorrendo nesse mesmo ambiente.
O autor acredita que as crianças possam conviver com diferentes visões do mundo, experimentar diferentes formas de expressão e de linguagens, possam ensaiar diferentes interpretações do mundo, reconhecer e valorizar, igualmente diferentes escolhas, diferentes organizações familiares, diferentes traços culturais. Que possam fazer isto sem que tenhamos que lhes “dar uma aula”sobre o assunto. (João Filho, pág 120).
Torna-se importante por isso a construção de mecanismos que nos habilitem a aprender a ouvir o que as crianças têm a dizer. É urgente a necessidade de nos abrirmos para o que elas expressam, com a humildade de admitir que praticamente as desconhecemos.

Educação na contemporaneidade: a tónica do debate

Ultimamente tem vindo a crescer uma constante preocupação com a qualidade de vida das crianças, porque as sociedades modernas tendem a preocupar-se mais com questões supérfluas e exteriores, que acabam por não ir de encontro às necessidades das nossas crianças.
Com esta atitude, as crianças de todos os estratos sociais, ficam susceptibilizáveis a patologias do mundo atual, tais como a miséria, a fome, a exclusão social, a solidão, a monotonia, a dependência do consumismo e ao empobrecimento de experiências com os outros e o mundo.
Nos últimos anos, temos assistido a dois paradigmas educacionais contraditórios. Se por um lado a preocupação maior é a “guarda e custódia” das crianças, por outro começa a dar-se um enfoque maior às aprendizagens que as mesmas têm de conquistar durante o seu processo de escolarização.

A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autónoma, crítica e construtiva com a cultura, em suas várias manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela e pela cultura quotidiana. E para que? Para formar cidadãos participantes em todas as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular os objectivos convencionais da escola- transmissão- assimilação activa dos conteúdos escolares, desenvolvimento do pensamento autónomo, crítico e criativo, formação de qualidades morais, atitudes, convicções- às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada (…). Trata-se de conceber a escola de hoje como espaço de integração e síntese (…) (Libâneo, 1998:8-9)

Mas afinal, que currículo, metodologias e estratégias devemos usar para facilitar a conquista de novas aprendizagens por parte das nossas crianças?
O educador de infância, já com crianças pequenas, deve incentivar a que estas consigam usufruir da dualidade do saber ser e saber fazer, do sentir e do pensar, de escolher e de criar.

Educação e informática- afinal o que se conclui?

Em todos os níveis de ensino, pretende-se que as crianças construam uma identidade pessoal, sendo que essa construção deve pautar-se pela ampliação das experiências de vida, baseada na diversificação dessas mesmas experiências, na comunicação intercultural, na valorização da solidariedade, no estímulo às mais diferentes formas de expressão dos sentimentos e do conhecimento e, no cultivo de relações multirraciais.
Para conseguirmos trabalhar todos estes conceitos na sua plenitude, devemos recorrer então aos computadores e a todos os recursos disponibilizados pelas escolas, potenciando dessa forma a abertura de um leque mais vasto de comunicações e de expressão amplas, favorecendo assim o intercâmbio de significados e valores.
No entanto, devemos sempre dar um enfoque principal às relações humanas, pois só dessa forma conseguiremos trabalhar todas as áreas de desenvolvimento das crianças, fazendo com que sejam elas a descobrir as suas capacidades e os seus limites.
Através do uso de meios tecnológicos, de diversos materiais sensoriais, de diferentes meios e métodos de aprendizagem, conseguiremos tornar as nossas crianças felizes e capazes de “enfrentar” o mundo, mas só o conseguiremos na sua plenitude se elas se desenvolverem lado a lado com os outros, numa constante troca de experiências e saberes.


Bibliografia: Sarmento, M.J. & Cerisara, A.B. (2004). Crianças e Miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância na educação, In Filho, João J.S., Educação Infantil e Informática, (105-134), Porto, Edições ASA

1 comentário:

  1. Joana e Catarina,
    Escolheram um texto que desconhecia e que gostei muito de conhecer. Em termos de análise está muito bem conseguida, um pouco longa talvez, mas bem estruturada em termos do que se pretende numa recensão.
    Atenção à citação de referencias de fontes secundarias, como é o caso da que segue e que deve ser apresentada da seguinte forma.

    Vygotski (1993,citado por João Filho, 2004)

    Na lista de referencias falta um ponto depois da data, uma virgula antes das paginas do capitulo um ponto antes da cidade (nao consigo colocar o titulo a italico:

    Sarmento, M.J. & Cerisara, A.B. (2004). Crianças e Miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância na educação, In Filho, João J.S., Educação Infantil e Informática, (105-134). Porto, Edições ASA

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